Quantcast
Channel: Blog de Cinema » Mariana Lima
Viewing all articles
Browse latest Browse all 8

RÂNIA/Crítica – jornada em busca de si mesma

$
0
0

O drama Rânia (2011), obra da cearense Roberta Marques, narra com poesia a história de uma garota que quer se tornar bailarina e que precisa enfrentar os obstáculos que sua vida de filha de pescador coloca

Graziela Felix em RÂNIA (2011)

Graziela Felix em RÂNIA (2011)

Filmes como Rânia, que têm uma cadência toda especial, com um ritmo mais lento, diferente do que se é acostumado a encontrar no cinema mais comercial, precisam, já desde o início, antecipar para o espectador o seu tom, para que esse espectador entre em sintonia com o estado de espírito almejado pelo diretor. No caso, pela diretora. E ela estará neste sábado, 23, no Cinema de Arte do Multiplex UCI Ribeiro, quando da exibição de seu filme que terá sessão às 10h45, e em seguida conversará com a plateia justamente sobre isso e outros assuntos relativos.

Roberta Marques, cearense que se divide entre Fortaleza e Amsterdã, realizou um filme universal, urbano, embora para os brasileiros e para os cearenses, em particular, seja possível identificar – ou se identificar com – os lugares, os sotaques, o modo de vida.

Esse universalismo surge logo no início do filme, com a escolha não de uma música regional para a trilha sonora, mas de “Troubled Waters”, uma bela e melancólica canção do disco de covers da cantora americana Cat Power. Quer dizer, não se trata apenas de um filme com um andamento mais lento: a melancolia também dá o tom.

Em certo momento, a jovem Rânia, vivida por Graziela Felix, diz que dança porque precisa afastar coisas ruins dentro de si, que só passam quando ela dança. E de fato a dança tem essa ligação com o presente, com o concentrar-se no agora, na respiração, no próprio corpo, que faz com que a amargura das memórias ruins e a ansiedade do futuro obscuro deem uma trégua para a alma sofrida.

Em Rânia, temos a história de uma adolescente que frequenta as aulas na escola pública de seu bairro, participa de aulas de dança, trabalha em um quiosque perto da praia, ajuda a mãe em casa. E ainda aceita a proposta da amiga mais velha Zizi (Nataly Rocha) de trabalhar à noite na boate de prostituição Sereia da Noite. Sua intenção não é ingressar na prostituição ou nada do tipo, mas apenas dançar, ainda que o lugar não lhe seja o mais apropriado.

Seu sonho de ser dançarina profissional se intensifica com a presença de Estela (Mariana Lima, de A Busca), uma coreógrafa recém-chegada à cidade. Estela representa a possibilidade, para Rânia, de sair daquela vida que parece predestinada: seu pai é pescador; sua mãe cuida do lar. A garota ambiciona mais, e isso é sentido também quando ela diz que sente algo dentro de si que não sabe se é medo ou coragem. Um sentimento que qualquer espectador, em certa altura de sua vida, já experimentou também.

Outro detalhe interessante está nas falas dos personagens, por vezes parecendo improvisadas, algumas vezes até de difícil compreensão, talvez porque a maioria dos intérpretes tem pouca ou nenhuma experiência. Essas falas mais realistas se alternam com as narrações em voice-over da protagonista, que apresentam um distanciamento maior da trama, mas, por outro lado, trazem uma dor maior, a dor de um narrador que já sabe o fim da história.

O filme se mostra uma alternativa muito bem-vinda para quem deseja fugir um pouco da mesmice dos filmes mais comerciais e está disposto a experienciar a delicadeza desse universo feminino da diretora Roberta Marques.

Graziela Felix e Nataly Rocha em cena de RÂNIA

Graziela Felix e Nataly Rocha em cena de RÂNIA

Sobre o filme e a diretora

Filmado em 16 mm, Rânia foi agraciado com o prêmio Mucuripe de melhor atriz (Graziela Felix) na edição 2012 do Cine Ceará. Também recebeu o prêmio de melhor filme da Mostra Novos Rumos do Festival do Rio em 2011, uma menção especial de melhor filme no Festival Lume (São Luís), prêmio de melhor filme no Festival Internacional de Cinema Feminino (Rio de Janeiro) e prêmio de melhor atriz no FestCine Maracanaú.

Graziela Felix foi selecionada dentre mais de 200 alunas de escolas de dança em Fortaleza.

Em exibição

O filme entra em cartaz desta sexta-feira, dia 22, além de Fortaleza, em outras sete capitais brasileiras. Em seguida, será exibido no Canal Brasil.

A diretora Roberta Marques, embora estreante em longas-metragens, já é bastante conhecida dos festivais. Seus trabalhos anteriores são os curtas-metragens Deixa Ir (2005), Acorda (2005), Looking Forward (2007) e Amá-la (2009).

Ficha técnica

RÂNIA (Brasil, 2011), de Roberta Marques. Com Graziela Felix, Mariana Lima, Nataly Rocha, Demick Rocha, Rob Das, Paulo José, Ângela Moura, Kennedy Saldanha, Renan Pereira, Dora Iório, Paulo Victor Clareano. 85 min. Tucumán Filmes. 14 anos.

Veja o trailer

Clique aqui para assistir o vídeo inserido.

 

O post RÂNIA/Crítica – jornada em busca de si mesma apareceu primeiro em Blog de Cinema.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 8

Latest Images

Trending Articles





Latest Images